sábado, 22 de dezembro de 2007

Figura de duração para o silêncio

Pausa. A estupefação chegou à língua e à ponta da caneta, pararam as palavras e as entonações. Estou sempre em um desses dois estados: declarando ou ouvindo declarações, sempre interessada nelas, ouvidos e olhos abertos, atenção escolhendo o que focar; cordas vocais ou dedos sempre trabalhando em cada reflexão. Mas agora acabam de me voltar as palavras que haviam fugido, e só pra falar sobre elas mesmas. O estado declarante/ ouvinte parece ter sido interrompido, momentaneamente, por uma reflexão mais densa que o habitual. Aquela sensação de eminência discursiva, quando os fonemas ficam a postos na língua, prolongou-se, as ordens para a ejeção deles não chegavam do cérebro.
Eventualmente, algumas sinapses conseguiram achar o caminho e vieram pra estas letras saírem – mas ainda são letras egocêntricas, falando sobre elas mesmas. Falar sobre o acontecimento/ momento vivido há pouco/ ainda agora seria de tanta pequenez que correria muito risco de aborto, assim como ler ou ouvir declarações alheias seria inócuo e parecia desinteressante, de inédito.

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