quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

BBB

Naquele marasmo de férias, os neurônios que ainda sobravam – entre os ocupados com a dieta do pastel-de-vento, pra produzir silhuetas agradáveis aos padrões das praias da moda, e os ocupantes das poltronas atraídas pela tela global - foram bombardeados por exclamações alheias, até convencerem-se de seus maiores objetivos autênticos e carimbarem suas resoluções de ano-novo numa rima perfeita: candidatar-se ao BBB, tornar-se um herói da tevê, pra todo mundo ver!

A telinha engoliu todos eles pra dentro da casa-calabouço, devorando cérebros inteiros sem mastigar! Lá ficaram remoendo ao sol os dramas dos scripts das novelas mais famosas, em tempo real. Até que chegou a berlinda, a hora-do-vamo-ver, o pico da audiência, o tudo-ou-nada, os 14:59 minutos de fama, aquele-que-não-deve-ser-mencionado, o temível, o impiedoso paredão.

Como se não bastasse uma crise de agonia, elas foram se repetindo periodicamente – toda noite de terça-feira – até que não podiam mais ser assimiladas devido à redução da quantidade de neurônios presentes. Cada vez que um neurônio era expulso da casa, empurrava milhares de neurônios telespectadores pra um mergulho ainda mais profundo nas raízes da futilidade, que corroíam suas sinapses.

Ao final de três meses de prisão, foram expulsos os últimos neurônios. Na festa da vitória, explodiram junto aos fogos de artifício os neurônios restantes dos fieis fãs – não sem grande estilo!

Estava cumprida a missão de mais um ano-novo! Só não havia sido previsto o que fazer com os cacos dos neurônios destruídos e sem mais razão de ser às terças-feiras. Haveriam de se conformar com a Sessão da Tarde e o Vale a Pena Ver de Novo - não havia sido sempre assim? Do contrário, que fossem à praia ou à praça testar a dieta do pastel-de-gás-carbônico e do suco de chuva ácida - oras, já não estavam acostumados?

(É por isso que direi aos meus netos, um dia, que fujam sempre do marasmo, que ele pode ser muito perigoso! Que mantenham seus neurônios ocupados, protegidos de bombardeios exagerados e que nunca aceitem pastéis com recheios gasosos. Agora sei porquê minhas avós sempre guardaram dietas de guloseimas pros seus netos - ah, a sabedoria dos mais velhos!)

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