terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Indisponível

Quando bateu à porta de manhã, nem me dei ao trabalho de abrir, reconheci suas batidas de longe. Apenas disse, pra não deixá-lo plantado ali o dia todo, perturbando a passagem:
- Desculpe, mas hoje não estou afim.
Ele insistiu em permanecer chiando.
- Hoje realmente não dá. Vá embora, procure êxito em outra casa. Só não te indico uma porque seria antiético de minha parte. Melhor, volte pra sua casa e assista a chuva da janela.
Deu meia volta e saiu. O ar ficou muito mais leve. O bom humor me fazia até esboçar um pouco de pena dele. Infeliz.
Apaguei os olhos e coloquei play no barulho da chuva novamente. Esperei até o cansaço escorrer pro bueiro pra me levantar.
Encontrei um afazer em cada degrau da escada. A luz, que tinha sido lavada pela chuva, deu-me ânimo pra me alegrar com eles.
Não era dia de mau humor. Os respingos da chuva na janela assustaram-no e ele se enclausurou na sala de tevê assistindo comerciais e ‘chuviscos’ das emissoras fora do ar.

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