sábado, 15 de março de 2008

A vez do silêncio





> Pra quem ainda não viu

(Resenha na gaveta pra um trabalho da facul)


Dizem que silêncio numa mesa de jantar, depois de servido o prato, é bom sinal para o cozinheiro, pois indica que as pessoas estão tão concentradas apreciando os sabores que até se esquecem de falar – e quando o barulho irrompe, são críticas positivas. Era este o clima da sala de cinema onde assisti o premiado sucesso dos irmãos Coen, “Onde os fracos não têm vez”.

O silêncio não era só da platéia, constitui um dos elementos de efeito mais marcantes do filme. A trilha sonora compõe-se apenas por ruídos de passos, pneus sobre areia, tiros inesperados e o som do vento desértico do Texas norte-americano. Isto somado a atuações brilhantes como a de Javier Bardem (ganhador do Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel) leva, com êxito, o suspense intrínseco da trama para a tela.

Baseado no livro do norte-americano Cormac McCarthy, o filme narra a saga de perseguição entre o ex-soldado Llewelyn Moss (interpretado por
Josh Brolin), o xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones) e o assassino psicopata Anton Chigurh (Javier Barden) no Texas de 1980 - retratado em cenários com a simplicidade áspera e as cores características do clima árido do “velho oeste” estadunidense.

A “caçada” começa quando Llewelen encontra uma maleta com dois milhões de dólares junto a uma operação de venda de drogas que acabara em mortes. Os gangsteres mexicanos envolvidos na operação contratam Chigurh, que não hesita em cometer homicídios, para reaver o dinheiro, enquanto o xerife Bell segue seus rastros na tentativa de proteger Moss.

A esposa de Llewelyn, Carla Jean (na atuação de
Kelly Macdonald), privada de explicações do marido sobre sua fuga, vira moeda de troca em uma cruel proposta de Chigurh ao fugitivo, que não a aceita e arma um plano para que Carla fuja com o dinheiro.

A moeda é um objeto que aparece algumas vezes no filme, introduzindo a idéia de destino, quando o psicopata manda suas próximas vítimas escolherem “cara ou coroa” para decidir sua sorte.

Paralelo à investigação, o xerife Bell passa por um momento de reflexão em que avalia o caráter violento e impiedoso da natureza humana e decide se aposentar após o fim do caso. É esta a principal questão instigada pelo filme, uma visão sobre o comportamento e os instintos humanos quanto à violência.

A premiação com quatro Oscars, incluindo o de melhor filme, à sóbria obra dos irmãos Coen surpreendeu parte da crítica, acostumada a ganhadores que se encaixam mais no perfil dos “blockbusters”. O silêncio da exibição, enfim, parece emergir da densidade das reflexões propostas.

(Seleção de fotos de divulgação do filme acima bem melhores que a do cartaz mais conhecido - aquele com a sombra do Josh Brolin correndo no deserto, bem no meio do nariz do Javier Bardem, cujo rosto é o plano de fundo, que, pela iluminação quase em triângulo, parece mais um caçador de tesouros saindo de uma pirâmide! Veja no link: http://theoscarigloo.com/2007/contenders/full_movieimage_12526.jpg )

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